A primeira vez que eu o vi foi em um momento de certa forma dramático, em que estava fazendo parte de um grupo que ia subir a Pedra Bonita por uma via chamada Grotão. O guia estava com muitas dúvidas em relação ao caminho e não conseguia se decidir por onde ir. Fazia muito calor e estávamos todos parados em um trecho sem sombra esperando o guia e outros participantes mais experientes decidirem por onde ir.
Então percebemos que alguém se aproximava e por sorte, era o Minchetti. O nosso guia só faltou beijar os pés dele! Isso foi por volta 1992 e o Minchetti já era um respeitável senhor, desses que costumamos ver, geralmente, jogando dominó em praças, pois bem, ele não só assumiu o papel de guia e nos mostrou o caminho correto para o Grotão, como subiu com a gente até o topo da Pedra Bonita com uma agilidade invejável!
Antes disso porém, apontou para uma moça que participava do grupo e afirmou que ela estava sobre uma mina d'água em que um amigo dele havia feito uma declaração de amor, várias décadas atrás! Diante do espanto geral, pois o terreno estava um pouco úmido, mas não se via sinal de uma mina cimentada ali, já que estava completamente coberto de folhas, então, para admiração de todos nós, o Minchetti afastou as folhas com as mãos e, aos poucos apareceu um quadradinho feito de cimento - de onde minava um pouco de àgua - e entre as duas letras que eram as iniciais do casal apaixonado (eu realmente não lembro quais eram) havia um coração desenhado. Depois disso todos, incluisive eu, que não conheciam aquele lendário montanhista, o olharam com o respeito que ele merecia.
Muitas vezes depois desse episódio, eu o vi em várias ocasiões, sempre nas trilhas, às vezes ele estava acompanhado, porém, a maior parte das vezes eu o via sozinho, como nessa vez, no Grotão.
Numa dessas caminhadas que Mincetti fez, aconteceu o inevitável e o grande montanhista deixou as nossas trilhas. Ele se foi fazendo o que realmente gostava e o Parque Nacional da Tijuca, reconhecendo a importância do grande montanhista que se foi, o homenageou com essa placa, que tem os seguintes dizeres:
Um Homem e a Montanha
Em 12 de Abril de 2008,
Neste local faleceu Raimundo Luiz Minchetti, o maior especialista da Floresta da Tijuca e montanhista renomado.
"O único que conhecia o significado preciso da palavra montanha, pois talvez nela tenha encontrado a inteligência superior que se revela na harmonia e na beleza da natureza."
É com justificado orgulho que o Parque Nacional da Tijuca homenageia o homem que encontrou sua vida nas montanhas.
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
Nos grupos de trilheiros e caminhantes diziam que Minchetti tinha o mapa da Floresta dentro de sua cabeça, e eu presenciei isso naquela extrordinária manhã de 1992.
Veja também: Floresta da Tijuca - Setor B, Floresta da Tijuca - Setor D, Pico da Tijuca - (Parque Nacional da Tijuca)
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Foto: Vinício Antônio Silva. Placa Homenageando Minchetti - Floresta da Tijuca, Setor A. Rio de Janeiro: Capital Cultural Brasileira.
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“Levantemos a cidade que ficará por memória do nosso heroísmo e do exemplo de valor às vindouras gerações, para ser a rainha das províncias e o empório das riquezas do mundo”
ESTÁCIO DE SÁ - 1565
Vinício Antônio Silva é guia credenciado pela EMBRATUR e fotógrafo amador.
Legal saber desta seu encontro com Minchetti, ele foi meu mentor, ainda hoje sigo por alguns lugares que só ele conhecia. Eu fui o autor da placa em sua homenagem.
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